50 ANOS EM 30 DIAS
por Edson Silva*
A grande ironia do destino é
não saber o que ele, o destino, nos reserva. E se quiser saber, é só aguardar. Em
meio século de vida o individuo conhece quase tudo e deseja viver a outra
metade para usufruir das experiências adquiridas. Mas quando chega o momento, frustra-se
por não estar preparado.
Onde está, a ironia? Em um
pequeno espaço da sua vida que deixou passar. Espaço que você mesmo nem sabia
que tinha deixado ou se existia. A doutrina espírita alerta sobre as aberturas deixadas
para trás, ou, que não foram fechadas. A vida é uma aliada do destino e lhe
serve como palco.
Tudo isso parece sem sentido
para você? Reflita sobre seus dias de ontem; vai encontrar algo que a vida lhe
trouxe para corrigir ou reviver, sempre com o objetivo de fazê-lo aprender o
traçado do rio. O rio da vida. O que a doutrina espírita, tem a ver com isso? É
ela que vem juntando os cacos deixados quando esse rio nos alcança. Claro, a
doutrina não é um serviço que empurra o lixo para embaixo do tapete, ou,
simplesmente deixa tudo limpo como se nada tivesse acontecido. Ao contrário, a doutrina
cola os cacos com ensinos que são dolorosos para os mais recalcitrantes, ou, é o
bálsamo para os que sabem adaptar-se aos contornos do rio. Simples assim? Não. Requer
daqueles recalcitrantes ou dos resilientes o desejo da melhora.
Tentar fugir do destino, não
adianta, porque ele mesmo financia as fugas. Você pode desejar o que desejar e
o destino irá te patrocinar. É um sacana, pois sabe que contra ele não se pode
escapar. A doutrina espírita suaviza essa ironia ao dizer que a vida possui a
lei do retorno, ou seja, se quiser ser feliz deve enfrentar as sombras do passado
e seguir adiante. Mas acredite, análogo a um meteoro que passeia no universo
com sua extensa cauda formada por pequenas pedras e de poeira cósmica, o destino
complementa-se também com uma cauda chamada retorno. Em outras palavras, o
destino é formado pelos retornos da vida que teve. Então, o que fazer se está
condenado ao ciclo da vida? Se está preso a si mesmo? Sinceramente, transforme
meio limão em uma grande limonada. Explico!
Por muitos anos uma família
que parecia viver bem com a vida, sempre em festas entre amigos, promovendo
alegrias e patrocinando ajudas, não contava que o tempo passava e o espaço ficava.
Os amigos e os patrocinados não mais existem há muito tempo; e sabem quando
deixaram de existir? Quando a família deixou de ter recursos para mantê-los
juntos. As maiores consequências? Em seu seio familiar. A colheita da indiferença,
da distância e da rejeição foi obrigatória. Aqueles familiares que poderiam ser
um hasteio, tornaram-se expectadores remotos. E a doutrina espírita o que diz? Traz-nos
Jesus em “reconcilia-te com aqueles que estão em teu caminho, enquanto estás
com eles.” E foi isso que aconteceu, o destino patrocinou um encontro que
durante toda uma vida não foi possível. A doutrina, juntando os cacos, oferece
na fala do mestre nazareno a oportunidade de amenizar a perda de uma reencarnação.
E orienta esse momento patrocinado.
Membros da família retornam
as suas ironias. Uma no final da vida, mais resiliente, a outra no meio da
vida, mais recalcitrante. Estiveram juntas em um leito de hospital por trinta
dias, mais tempo que o próprio tempo que tiveram em vida. O recalcitrante
consciente do imperativo da sua necessidade, busca diminuir o que lhe manteve distante
durante anos. Enquanto o resiliente, bem, esse sabe como oportunizar. A vida
separa, a morte une. Meio limão faz uma limonada ou parte dela. Assim, Chico
Xavier termina este texto ao dizer: "Embora ninguém possa voltar atrás para fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."
*Pesquisador da Ciência da Religião e Palestrante
Comentários
Postar um comentário